Glória in excelsis Deo

em ávidas mãos, a ampulheta da alma

a divína providência em movimento

albergando no seu andar a sombra

em tempos de sombra, o sangue derramado

lavrando os corpos outrora destituídos

vendo-se libertos da mortalidade pura

no corpo, as chagas absorvendo o nefasto

rejubilou-se a humanidade em graças de amor

do alto dos céus o pão e o cálice da salvação

cumprida a profecia, criada a aliança

lágrimas amigas viu-se a mãe verter

lavando o calvário com a prosperidade

em contornos de paz, o trono do rei

senta-se o filho à direita do pai

e tudo se consuma à volta da vida

by Johnny Pina

Despejo I

sinto-me amordaçado

sinto que falta qualquer coisa.

do mais sóbrio monte do meu ser

paira sobre mim um vazio

neste dia cinzento, aqui me sento

para que do além me complemente

a força de caminhar por mais um dia

sinto-me assim, abandonado, mas nunca só

vejo pelas janelas da minha alma

lá fora a chuva, sobre a minha cidade

sinto-me impotente e aqui me sento

pelo decreto supremo da vida

para que do meu suor possa comer dignamente

mas sinto-me assim, incompleto

tenho tudo em mim, mas não tudo comigo

vejo-me como as nuvens do alto dos céus

negro de coração repleto, ao convite do Sol

perambulando, alagado na brisa desta manhã

sem saber o meu destino, vagueio em cogitações

à espera do mar onde eu possa descer

do chão onde, em verdes, eu possa crescer

by Johnny Pina